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É sob a ideia de partilha e de reflexão que se apresenta a edição do Alkantara Festival em 2021, de 13 a 28 de novembro, em Lisboa. Durante duas semanas, vários projetos artísticos vão circular entre o Espaço Alkantara e as salas dos habituais parceiros do evento, como o Centro Cultural de Belém, a Culturgest, o São Luiz Teatro Municipal, o Teatro do Bairro Alto e o Teatro Nacional D. Maria II. Composta por dança, teatro, performances, conversas e debates, a programação do festival promete abordar alguns dos principais temas da atualidade e ser, a cada momento, um espaço de encontro, de confronto e de experimentação. A programação completa está em https://alkantara.pt/

Um festival em que os espetáculos e as práticas do corpo não estão distantes de preocupações com o que acontece no mundo.

O programa do Alkantara Festival 2021 é uma comunidade de corpos políticos. Corpos que podem e querem intervir sobre o presente, que querem construir futuros. Corpos que performam pela preservação de ecossistemas naturais e para novos equilíbrios sociais. Corpos que propõem novas formas de olhar para as limitações do corpo e para as suas potencialidades. Corpos que transportam histórias e experiências que precisam ser revistas. Corpos que re-contextualizam e re-imaginam espaços públicos carregados de símbolos que precisam de ser re-contextualizados e re-imaginados.

A Onda

foto divulgação

Nacera Belaza procura o infinito através da repetição, da imersão. Aqui o movimento não procura dominar o corpo mas sim libertá-loNa escuridão do palco vemos aparecer e desaparecer cinco intérpretes. Os seus corpos movem-se continuamente, repetindo um único gesto circular. Uma gravação de música tradicional argelina, repete-se sobre si mesma, em loop, desafiando a harmonia da percussão original. “A onda” é uma coreografia cuidadosamente construída com a matéria do corpo, da luz e do som, sustentada pelo fascínio de Nacera Belaza no poder dos rituais. O resultado é uma dança que é um mergulho num estado de espírito, a abertura de sentidos e a conexão com a interioridade. A plenitude do ser.

19 de novembro no Teatro São Luiz

Velhas

Dança Sem Idade centra-se na questão da idade e do envelhecimento, seja no plano da dança seja num âmbito mais geral no seio da sociedade. A articulação das suas diferentes actividades visa contribuir para a desconfirmação de ideias pré-estabelecidas e ainda pouco contrariadas quanto à idade até à qual se pode dançar, e das expectativas por parte do público quando confrontado com um corpo fora destes parâmetros convencionados. O projeto coloca em diálogo profissionais da dança com mais de 40 anos e figuras académicas, de vários países, reivindicando espaço e visibilidade para corpos menos jovens e já não no fulgor da exuberância física, mas que com toda a sua experiência e inteligência motora acumuladas podem ainda interpelar e conquistar os públicos. No espetáculo “Velhas” , o coreógrafo Francisco Camacho reúne um grupo de profissionais que já dobraram os 50 anos, com a música ao vivo de Sérgio Pelágio, e contando com a generosa participação de habitantes lisboetas com ainda mais idade.

27 e 28 de novembro no Teatro São Luiz

O Susto é um Mundo

foto divulgação

O Susto é um Mundo é a nova peça de grupo de Vera Mantero. O espetáculo explora alguns antídotos para os sustos do nosso presente, como o fascismo, o fanatismo ou o ecocídio. O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro diz que, para os indígenas brasileiros, “a contradição faz sentido”. O professor de ética Jonathan Haidt diz que os seus alunos estão encerrados em bolhas politicamente correctas e aconselha-os a percorrerem mundo para serem capazes de contradição. O psicanalista Carl Jung dizia que a sua linguagem devia ser ambígua e de duplo sentido porque só assim ela faria justiça à nossa natureza psíquica. As alegadas interferências das redes sociais em processos eleitorais recentes fazem-nos concluir que os media “saudáveis” são aqueles que não apresentam apenas um ponto de vista e sim vários, de preferência contraditórios. E a questão a se pensar é: uma educação para a cidadania será uma educação para a multiplicidade e para a contradição?

25 a 27 de novembro na Culturgest

Fumaça

Entre exercício de memória e feitiço, o trabalho de Ana Pi convoca a ficção colonial da História para dialogar com o colapso da realidade vigente. Os trânsitos arquitetônicos inevitáveis que conectam as cidades de Lisboa em Portugal e de Salvador no Brasil indicam com precisão o cenário deste ato: O Pelourinho. Desta vez o pilar, que serviu para a implantação das dinâmicas de espetacularização do terror e da violência, é transformado em terreno para a execução de uma justiça epistêmica. Uma benzedura, um tempo dedicado à reflexão lícita e legítima acerca das torturas simbólicas que os monumentos teimam em operar. Apesar de ocupar fisicamente o espaço público branco, por contraste a performance se concentra justamente no que é intangível, para não se dispersar no que sempre foi ruína. Uma celebração que busca restituir dignidade àquelas pessoas negras insubmissas que tanto tentaram nos alertar, quanto ensinaram a algumas de nós a escutar a coragem, ainda.

22 de novembro em uma rua de Lisboa (espaço ainda a definir)

Como comprar bilhetes

Os bilhetes para os espetáculos do Alkantara Festival 2021 podem ser adquiridos nas bilheteiras, físicas e online, dos teatros parceiros (Culturgest, Centro Cultural de Belém, São Luiz Teatro Municipal, Teatro do Bairro Alto e Teatro Nacional D. Maria II), e a partir do site do Alkantara Festival.

As Portas Abertas, festas, simpósio e atividades práticas do programa Dança sem Idade e os todos os eventos do programa Terra Batida são de entrada livre. Em alguns casos, é necessário uma inscrição ou reserva. Para mais informações, consulta as páginas de cada evento.

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